segunda-feira, dezembro 15, 2008

Verde, vermelho e Vinho.

Montar o pinheiro é a coisa de que mais me lembro da minha infância. O cheiro de coisa guardada, os enfeites novos e os quebrados, todos dividindo o mesmo verde pinheiro gigante que não tocava o teto mas alcançava o céu, nas minhas fanfarronices de menina que quase aprendeu a ser menino.

A mãe continua montando coisas e espalhando enfeites, mesmo que as crianças não peçam, mesmo que as crianças tenham inchado, mesmo que o gato não tenha mais peixe pra comer na véspera do Natal porque descobriu que a árvore podia facilitar seu acesso ao que era proibido.

Todos nós aprendemos a facilitar o que nos é proibido.

Sem crueldade desta vez. Porque no natal é espírito natalino, e no resto do ano é espírito de porco.

A unha vermelha e o vinho são pra esquecer quem esquece de avisar que nos esqueceu.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Sobre decidir ou sentir

Existe algo muito escroto no fim das minhas palavras que denota a saudade que sinto de tudo que não vivi.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Aquilo que nos corrói

Ouvi meu nome e me virei. De dentro do carro, que atrapalhava sem culpa o fluxo de automóveis na principal avenida, me acenou a mão que anos antes me procurava como se minha obrigação fosse oferecer. Três passos e meu rosto veio ao chão, junto com a confiança e palavras trancadas num lugar entre os pulmões e a garganta. Então, não precisava mais andar, procurar ou desconversar: descobri que se pode, sim, acabar com o dia de alguém com simplesmente um olhar, e pude finalmente equiparar meu sentimento ao daquelas garotas que mudam todas suas vidas porque não sabem mais encontrar aquilo que lhes foi tirado.
Em cinco minutos disse mentalmente anos de silêncio e frustração. Tu sabias que eu não iria me permitir, não sabias? Tu sabias que eu sempre te julgaria muito aquém da tua capacidade de me atrofiar emocionalmente.
Eu ainda tendo a te perdoar e te considerar inocente. Enquanto isso, repudio qualquer coisa que se pareça com você e se mostre amigável. Vendo teu rosto eu entendo porque raramente consigo me entender.
Valeu, aí. Só queria que você sentisse o que eu sinto pelo menos uma vez.
*semelhanças com a realidade são coincidências. O que for igual, é causal.

quarta-feira, outubro 22, 2008

O que escrever num cartão postal

É difícil manter o corpo e a mente no mesmo lugar.
O passado cria limo, e tornar àlgum lugar que não é mais nosso faz escorregar e segurar em quebradiços cipós.
Reluto a encontrar o lugar onde eu me encaixe: parece que sempre que vou embora consigo ver que não, aquilo não era pra mim.
Não entro mais nas roupas que cabia, não cantarolo Alegria e não me vejo onde se não longe. Vínculo é uma palavra difícil de definir quando não se sabe o que fazer com ele.

A contradição se traduz na própria sorte, mas o que dizer do Natal quando não se come peru, as crianças não correm e a música é russa? Parece uma espera pelo próximo ano, pelas canções esperançosas, pela maravilhosa pessoa que seremos. Andar para frente. Sorrir de lado a lado. Deixar para trás. Apontar direções com palavras, como se as vogais fossem flechas.

O esôfago pode se romper e contaminar os órgãos. Portanto, não contenha o vômito. Mesmo se for de emoções.

"A primavera está cinza mas acredito que dentro de dez dias os pessegueiros trarão a alegria adocicada que esperamos. Os rastros do outono resumem-se na melancolia dos sorrisos, de forma que será difícil um sorriso caloroso, então acostumo-me a perguntas tendenciosas com hálito de guacamole."

segunda-feira, outubro 13, 2008

O conforto como uma sub categoria da felicidade

(me desagrada ler textos com pontuaçao incorreta ou deficiente, entao sem problemas que eu entendo o drama da leitura do meu blog)

A felicidade, no senso comum, pode ser generalizada como a satisfaçao pòs-coito.
Para mim, felicidade variàvel parece permanentemente quase-atingida, com aquela sensaçao de que hà algo mais a fazer.
A rotina cremosa faz sulcros delicados na cartilaginosa memòria: està tudo aqui? Esperando por algo mais, os olhos fazem manobras para espiar o que seriam as outras possibilidades, mantendo a falsa postura de contentes e bem-alimentados. Os desvios que fazemos, exibindo-nos como se efetuàssemos manobras radicais, sào apenas os mesmos da ùltima vez: é arriscado fugir além do campo delimitado para os fugitivos.

Um cara toca saxofone na praça e a divina comèdia humana tranforma a libertaçao em vadiagem, o amor em putaria e a confiança em burrice. Confiar em quem além do porteiro e do cobrador? A traiçao é iminente? A descentralizaçao das nossas idéias confere a terceiros decisòes e palpites que qualquer terapeuta desaconselharia. Dou à luz uma estrela pulsante e minhas entranhas procrastinam a acostumar-se sòs.

A mùsica sempre diz algo que eu gostaria de ter criado, mas eu falho e maldigo o momento em que desafiei minha competencia e conferi a culpa de meus maus momentos de erupçao mental a nada além de mim mesma.

é o conforto de escrever com os dedos, e nao com a cabeça, que enche d'àgua os pulmoes.

é preciso querer bem mais pra continuar acordando e segredar à vida que um dia nasceu là fora, que é a cotovia que canta e nao o rouxinol.

Tenho que enxergar bem mais para encontrar o caminho ao oftalmologista.
Precisamos sentir que podemos mas nao queremos chorar.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Desejo solùvel

O tempo passa.
(apalpa, apalpa, apalpa. Suspiro)
é, parece que nao tem nada de diferente.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Tudo que eu queria te dizer.

Faz anos que nossas vozes nao se tocam, mas ainda assim salivo com o gosto de nossas discussões na memòria.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Não se esqueça de alimentar os peixes

No hospital o dia-a-dia é sempre igual. Chega gente, sai parente, troca turno, acaba o mundo e a surpresa do final nunca é um kinder ovo. A enfermeira leva a sopa, a camareira troca a roupa e sanado o problema o hóspede deixa o hospital ou o hospital se encarrega do hóspede. Minha mãe ficou amarela e o hospital veio até ela. No carro grande mal cabem dois, perguntei se podia ir e a mãe respondeu que

-Não, hospital tem cheiro de morte. Não esquece de alimentar os peixes.



Nunca mais fui buscá-la.

Comi toda a comida dos peixes.

Fiz um presente que não pude entregar.
Dentro do abajur de papel, os vagalumes estao mortos há anos. Não tenho coragem de jogar fora, parece que a mãe tá junto.

Com o que sobrou do que eu uma vez senti.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Bonequinha


Vai existir um dia em que eu não me lembrarei mais de você.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Afeto em frente ao mar

(Negue, minta, esconda. Mas nós sabemos que tudo que tu queres é alguém que te puxe pelos cabelos e diga, implore, chore para que volte para casa. Todo dia teus créditos terminam e tu dormes pouco para logo poder ganhar mais e gastar tudo de novo. As camas que te abraçam te levam a sonhos de outras pessoas, mas teu suspiro por dar só viria depois de lençóis recém-trocados)

feliz.cidade e pôr-do-sol em Vitória.


quarta-feira, julho 09, 2008

Sono vivo abbastanza

São histórias, e o mais louco das histórias é que, quando elas terminam, só queremos saber se aconteceu de verdade.

-Aconteceu?
-Não sei. Mas parece.


Um experimento científico em humanos, como era típico nessa segunda grande guerra. O fato é que ele se divertia, se divertia de verdade analisando os resultados e descartando as amostras. Em toda sua crueldade sem culpa, tinha uma curiosidade sapeca: Até onde uma pessoa poderia acreditar?

Colocou sua amostra humana numa cama, atou-a, vendou-a, deu o tempo suficiente para a curiosidade e o medo dominarem-na e, pontuando categoricamente cada frase, disse

-Você tem exatamente 4 litros e meio de sangue no seu corpo. Farei um corte vertical de 3 centímetros no seu pulso. Esse sangue pode ser suficiente para manter o seu corpo vivo por mais duas horas, mas como o fluxo de sangue vai mudar de pouco em pouco, não tenho como saber exatamente. E é isso que eu quero descobrir hoje.

Os cinco minutos seguintes só não foram mudos pelo esporádico tilintar mecânico dos instrumentos na mesa.
A dor aguda que atingiu o braço de Niccolle durou somente até o momento em que ouviu o sangue cair na bacia, cujo ritmo lhe ajudava a contar mentalmente quantos minutos era capaz de agüentar.

A freqüencia dos pingos de sangue diminuía minimamente, mas diminuía. Niccolle soube das novas.

-Uma hora. Cerca de 2 litros de sangue ainda estão no seu corpo. Agora talvez você vá se sentir fria, triste e entorpecida, mas não se preocupe. É absolutamene normal, nessas situações.

Absolutamente normal. Pinga pinga pinga. A freqüência diminui. Pinga pinga pinga. Os passos do Experimentador ecoam no quarto ao lado. Sons similares a risadas. Tristeza, vontade de querer ficar um pouco mais. Pinga pinga. Teriam sido horas desde o comunicado? Teriam sido poucos minutos? Quanto faltaria?A freqüência diminui a tal ponto que se faz necessário esperar para escutar o próximo pingo quando, des-finalmente, cessa. E seu coração pára.

Antes de encerrar a pesquisa, o Experimentador retorna, retira a bacia de debaixo da torneira, despeja a água de laboratório no ralo e, com a curiosa inocência de um menino, recolhe o corpo intacto.

quinta-feira, maio 29, 2008

Faltava quase sempre um sim

E agora já não falta nada.

Eu conheço uma garota. E ela coloca cores no meu mundo.

E, idiotamente, ela acredita. Acredita que pode recomeçar e, de uma vez por todas, fazer dessa naba toda um lugar legal pra se viver. Ela é besta, pois todo desespero carrega consigo um pouco de razão. Razão que ela já não encontra quando vai pra casa e vê na calçada mijada os mesmos corpos, as mesmas dores, os mesmos cheiros.

E se não fosse meu carinho por ela, eu não tentaria ajudá-la. Mas acontece que cada dia ela tem que recomeçar, ela tem que me esquecer e me amar, então como eu faço? Ela nunca sabe até que ponto chegou, pois é um eterno retorno de um lugar sempre desconhecido - pois ela não quer conhecê-lo.

Eu quero que ela se foda. Que ela não precise de ninguém. Eu quero que ela volte sempre a me amar como me amou ontem, eu quero que ela não finja todo dia esse amor, só até a próxima vez de me odiar.

Ela me disse que vai embora, mas que é de mentirinha e que eu não preciso me preocupar. Que um dia ela volta (ela sempre volta) e que todas as mãos dela apertarão meu corpo pra que a gente não se separe mais, nunca mais.

Ela compôs uma música pra si mesma, sobre partir e ficar, sobre pessoas que jamais saberão como mexeram com ela. Ela escreveu um poema praquele garoto e nunca sonhou entregar. Ela jurou que um dia viveria de verdade. Viver, e não apenas existir.
Porque eu cansei de sobreviver e esperar. Porque cansei de sê-la e jamais tê-la. Eu cansei de acordar com ela mas não sabê-la, cansei de acordar comigo e não ver-me. Sou tantas pessoas, e todas essas pessoas me desconhecem.

Amanhã ela vai acordar. Amanhã provavelmente será o primeiro dia do resto da sua vida.
a dor disso tudo não é não querer que seja tudo colorido. A dor é que, sem saber quem poderá entendê-la, ela escreve como se falasse para si mesma.

Ela é a pessoa mais importante do mundo, dentro do seu mundo. Mas tem um fanatismo idiota pela iconoclastia.



(essa mania de escrever sobre si mesmo em terceira pessoa é coisa de quem tem uma reserva tão grande que vive no dilema de viver sozinho e abrir as páginas do seu diário.)

segunda-feira, maio 26, 2008

A todos que derreteriam num sorvete de morango

Ou: Dos dias que a gente lembra.


Não é certo que todo dia será uma lembrança memorável, ou que viveremos plenamente ao consumir becel, mas então por que acreditamos nisso e cobramos dessas cabeças cansadas sempre os melhores resultados que poderiam ser atingidos - não por nós, mas pelos outros?



Demorei 14 anos para perceber que minha vida jamais seria como um comercial de margarina - não por pessimismo absoluto ou redenção ao mínimo, mas por lealdade para com minhas metas.

Depois disso, mais um ano para descobrir por que eu não deveria brincar com o que as pessoas sentem.

Aos 16 senti falta de muita coisa que só teria descoberto depois de velha.

Depois disso, entrei numa de jogar roleta russa com os fatos da vida que, agora, 18 anos e mais um pouco depois daquele fatídico 1° de outubro, eu revejo fotos e reavejo sentimentos.


E agora, sem eiras ou beiras, certeza ou sertralina, grana ou paciência, eu chuto algo pra bola cair na cesta, e caminho. Caminho em mão única sem ultrapassagem.
Isso sem lar, sem açúcar e sem soníferos.
Tudo pelo preço da consciência.
Tudo pra saber que,
afinal,

vale a pena.

terça-feira, maio 13, 2008

Sequer sou boa de bola

me disse um dia que meu destino era ser ruim, assim.
Um milh. de pessoas na cidade e sò querer aqueles olhos rabiscados.
Ridìculos. Esqueci como faz pra desapaixonar.

quinta-feira, abril 24, 2008

O dia depois de ontem

Acho que ele nunca existiu.

segunda-feira, abril 14, 2008

Cala a boca, deita aqui e dorme

Ultrapassa a derme. A carne. A corrente sangüínea.

Não enxergou as flores que eu coloquei num vaso bem bonito e colorido no alto da geladeira.

Não comeu o bolo que eu fiz nem leu a carta que escrevi, em meio ao fracasso e dor de não ser quem não sou.

Fez sexo consigo mesmo e esqueceu que eu estava ali; juntou as coisas todas numa frase só e disse sem repetir:

-Vá se foder.

O asco decorrente uniu-se ao suco gástrico e vomitei tudo de uma vez só.. A intolerância, incompreensão e desejo incomensurável de que tudo fosse diferente.

-Tudo o quê? [e mais uma vez o desprezo e a inconseqüência daquela boca que poderia ser minha]

Nada. Nada. Nada faz sentido, hoje. Ia comprar Nietzsche na feira, mas o vendedor disse que minha aura niilista era auto-suficiente.

Dos que voltam, pelos que ficam

Que a imagem que

toca a tua retina não

se inverta


assim te chega ao córtex

visual

a real imagem

de como
me deixou.

sexta-feira, abril 11, 2008

Me sinto invadida!

8:00, quem liga pra alguém às 8:00?

Louco, psicopata ou estrangeiro.

"-Alô. (essa sou eu)
-Oi, quem é?
-Carolina.
-Quem?
-Quem tá falando?
-Quem é?
-Quem tá ligando???
-Qual teu nome?
-Carolina.
-É de Paranaguá?
-Não. Curitiba. DDD 41.(¬¬)
-Tá fazendo o que aí?
-Eu moro aqui.
-Ah, eu estava ligando pra outra pessoa..
-Jura?
-Mas foi bom, encontrei uma voz muito sexy.
-... ..????!??!?!??!
-Você tem uma voz sexy, sabia?
-Rá rá.
-Não quer se encontrar comigo?
-(WTF?)Não sou louca e já tomei café da manhã, obrigada.
-..
-Rá."

Agora, quem me explica o que fazer com esse humor ácido que ficou?

quarta-feira, abril 09, 2008

Das receitas de bolo


Minto: dos bolos semi-prontos.

Mas é que ninguém se atrai por quem pega as coisas semi-prontas e só adiciona ovos, farinha e água! O desafio, cadê? O desafio é fazer aquela papa grudenta ter uma consistência digerível e atraente.

Depois de esforços minimalistas, adicionando aveia, farinha integral, linhaça e muito, muito amor, percebi que se os fabricantes quisessem aguçar nossa percepção culinária não fabricariam essas coisas semi-prontas. E também tornou-se claro que todos os meus ingredientes iriam se dissolver, tamanha a quantidade de amor radioativo que eles colocam naquelas fórmulas.

Numa fuga rápida, espetei o palito, como indicava no rótulo, para saber se estava pronto. Esperei 10 minutos e nada. 20 minutos, e tudo continuou igual. Duvidei da veracidade das informações do contra-rótulo, abri a porta do fogão e lá estava ele, o palito, como eu o tinha colocado!
[Provavelmente as coisas estão dando errado, hoje.]
Quando fiz o pão de queijo, esperei que ele ficasse dourado, como indicava no rótulo, mas acabou passando do branco para o marrom sem grandes glamour.

[Acho que estão tentando me enganar. ]

Li as informações novamente, e era bem claro:
"Para descobrir se o bolo está pronto, espete um palito".
[Não é pos-sí-vel. ]
Como o palito não avisou nada, passada uma hora eu resolvi retirar o bolo.
Bolo quente dá dor de barriga (numa linguagem polida), dizia minha mãe. Coloquei o bolo na mesa e preparei as coisas para o café. Todas colocadas em volta dele. Fui dormir ansiosa, pensando em como ele estaria pela manhã.

[Nada mais delicioso do que adiar o prazer. ]

Acordei 15 minutos antes, para degustá-lo melhor.
Uma fatia generosa. 15 minutos para engoli-la.
Foi o que imaginei:

Incomível.
Nada como sentir na pele a ilusão desmitificada das coisas semi-prontas e comidas congeladas.

Deixei um bilhete carinhoso, e fui trabalhar.

"Bom dia! O bolo está estranhoestranhoestranho estranhoestranho. Tome cuidado."


terça-feira, abril 08, 2008

A verdade segundo O Urso.

Anã.
Anão.
Anões.
Que baixaria.

segunda-feira, março 17, 2008

Delícia Vermelha

Podia deitar-se com quem quer que fosse, tocar o que quer que fosse, mas seu coração permanecia virgem.



Anna levantou-se da cama e, quando o sol arranhou as paredes do quarto, envergonhou-se, vestiu-se, deixou dormir mais um dos pobres garotos que nada tinham a ver com a sua busca. Mas antes, como castigo, fechou as cortinas e deixou o sol ser sozinho.



Não lembrava onde fora a farra da noite anterior, nem lembrava como parara naquela cama pequena: a bebida não era mais agente causador; era agente esquece-dor.



O cheiro forte de maçãs e patchuli fazia-a indagar-se coisas absurdas. Afinal, quando foi que deixara de se sentir a princesinha do papai?



As unhas compridas, vermelhas, arranhavam a carne enquanto esperava o táxi que não chamara. Quando os minutos tornaram-se cansativos, recolheu do chão o embrulho e caminhou ao mercado.



Porque a chuva fazia com que se sentisse úmida, silenciosa;



fatal.



Os olhos de gueixa, o cabelo comprido, o corpo calculado: ela inteira caberia nos sonhos de qualquer um, mas não, não queria caber,



queria ser.



Atravessou a rua e resolveu fazer compras no mercado sempre tão caro, sempre tão perto, e nem percebeu que, enquanto esperava os carros passarem, um pretérito alheio tocou seus olhos. Anna era cor, dor e insanidade; aos olhos dele, que a observava da magrela azul todo dia quando ia trabalhar, Anna era toda vermelho-vivo-pulsante, como a boca que ela pintava.


era perfeita.




E Anna vivia a angústia de não saber como se sentir. Servia café em xícara grande, toda manhã, deixando sobrar sempre a mesma quantidade.




Anna, quando você for atravessar a rua, olhe para os dois lados. Mesmo se for mão única.


(fim da primeira parte).



me deixa tocar você sentir você beijar você cheirar você em cada canto seu até que não tenha mais cheiro mais canto mais você mais nada.




segunda-feira, março 10, 2008

Ímpeto lascivo.

Como não se conta um conto.


Amizade escarnada no desejo?
Não saberia. Pagou a passagem, estralou os dedos (menos o dedão esquerdo, era sempre tão complicado estralá-lo!) e pensou:
"Onde parei?". A falta de respostas foi a única coisa que lhe surgiu à mente.
Por que era assim difícil ser emocionalmente estável, financeiramente satisfeito e intelectualmente respeitável?
A incapacidade o oprimia; a fatalidade decorrente o excitava.
Coisas da vida.
O ônibus chegou, desembocou desconhecidos feios, sujos e mal humorados, fechou as portas e ele.
continuou.
ali.
(é preciso muita calma e paciência para suportar uma existência descoberta antes da hora).
Surpreendia-se com a força que aquele corpo miúdo, estreito, tomava seus pensamentos. Não era preciso metafísica dos tubos para entender que o que sentia era quase, quase divino.

Sempre, sempre há tempo para dizer que gosta, para dizer que se importa, e o tempo se expremia entre as mãos, pernas e sexos naquele ônibus apertado.

Às vezes vinte anos passam mais rápido que uma madrugada no hospital.

A mãe dissera que o tempo lhe ensinaria a ser homem; que carregaria na pupila do olho uma menina, e que ela o ensinaria a não ser assim cruel.
Mas não ensinou e o que lhe favorecia era a sem-vergonhice de nada ter; assim, nada tendo a perder.

sábado, março 08, 2008

Pro inferno com as rosas

Não é porque não as ganhei que não sinto orgulho ao vê-las em mãos alheias.
Não é porque eu ouvi a coisa mais rídicula que eu não darei uma nova chance a essa voz.
Não é por falta de gasolina, não é só porque é Carolina.

Feliz dia das mulheres pra moça que recolhe papelão, pra vendedora de bijus na rua, pra moça que sentou no lugar que eu estava reservando.

Feliz mulher, dia das vidas nossas que não aparece em todo calendário.

Agora eu vou na farmácia comprar um anti-constipador mental, e ver se ganho uma rosa.

Rosas para uds.

segunda-feira, março 03, 2008

a carne / é fraca.




O ácido queima a carne

a carne ofende a raça

a raça não tem mais nome.


O fim não tem mais ponto

a guerra não tem mais como

e o menino

virou homem.


Por estatística,

já cresceu.

Na metafísica,

desfaleceu.


A roupa que cobre:

tênue linha entre desespero

e a ilusão de viver.


Ser humano virou meio,

Metade mesmo-

quando descobriu a bomba

a cocaína

e as palavras usadas

como lanças envenenadas na ponta.


O movimento ameaça, mas, veja:

é só um menino

E o menino queria ser gente.


Atravessou a rua,
pisou na lua,

chorou a inexprimível dor

e no canto escuro deitou-se

até secar

oxidar.


Fez-se esperar algumas horas.

O resto

era silêncio

e história.


Porque a dor da guerra me queima o estômago.

Hai un momento, dio?

Coloquei a mão no peito, extasiada pela tensão e tesão do momento, e disse de um jeito que não poderia ser outro:
-Filho de uma curca.
Ao que ele, na sua superioridade absoluta e inabalável pompa, baixou a cabeça, concordou e ressaltou:
-Muito curca.
Nossos olhares limitarem-se à vergonha de sermos quem éramos, no lugar onde estávamos, nas condições inquestionáveis: Ele não me responderia o que eu mais queria saber. E eu, ah, eu nunca me dobraria por tamanha situação inodora!
E eu era jovem. Sim, era jovem.. foi apenas ontem e anos se passaram desde que eu tombei com deus nas escadas porcas da praça. Ele e seu olhar fugidio. Maldito olhar! Sabia que eu iria exaurí-lo, sabia que minhas dúvidas não eram poucas. E eu disse
-Vem que te pago alguma coisa, bato uma foto tua no Alemão, te viro do avesso e descubro teus motivos.
E ele cedo disse que o mundo é dos espertos, virou as costas e continuou vendendo seus trecos artesanais para os alcoolizados e solitários: "Compra algo pra enfeitar o dedo da tua menininha".
E eu, joguete do destino, fiquei com uma flor na mão, um brinco novo na orelha e um pedaço faltando nesse espaço, há tempos tão vão e tão vã e tão cão: ...
Eu tapei essa ausência com durepox, deixando o cinza grudento evidenciar essa falta absurda de um desconhecido esperado. Eu queria é que ele tivesse aceitado meu convite, bebesse comigo e dissesse por que é sempre um diferente tão igual, eu queria que ele me desse UM motivo para acreditá-lo.

Mas não o fez.
Afivelou as sandálias,
enrolou a ponta dos cabelos com o indicador,
bocejou e despediu-se.
Virou-se pra mim e, numa tentativa frustrada, arrematou:
-Viva o lado Coca-Cola da vida.


#
Eu estaria aqui de qualquer jeito, mas não é por isso. Eu quero uma felicidade que não precise ser colorida, mas que a seja, por pura sinestesia!
#

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Acordar


Porque acordar, ah, acordar não é simplesmente abrir os olhos e levantar;
acordar te exige muito mais que essa repetição diária; acordar te esgota e
quando é sonho bom, tu acordas sem querer com o barulho mais incômodo: o
acordar
de outro alguém.

História: s. f.: Junção de fatos que compõem o
passado de
alguma coisa;
irrepetível-irreversível-intransponível
.


O amor é filme porque ele tem ex(-)pecta -a-dores.

E
nada, nada
mais.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Tenho 4 posts pendentes:

Labirintite emocional ;

Os valentes Hércules dos finais de relacionamento;


Uma semana PUNK ;

Eu quis te ter como sou.

Acho que não cheguei a escrever mais de uma frase cada um.

Olha, lá vai a Carolete de novo deixar o post pela metade.

Passarinho que come pedra sabe o cu que tem!!

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Solteirices

Engraçadas são as coisas que você escuta quando as meninas-mulheres de quase 30 resolvem soltar a língua e os cabelos:

-Preciso de um homem.
Mas, claro, elas têm suas exigências.
-Mais de 45, ativo, com personalidade, financeiramente estável, sem filhos, que saiba me agradar.
Claro, um dia elas caem na real.
-Mais de 45, financeiramente estável, que tente me agradar.
E trocam as prioridades.
-Financeiramente estável, que me pegue com carinho. Mais de 45.
Perdem o foco.
-Com peito peludo, mãos grandes e habilidosas. Mais de 40.
Entram em desespero.
-Ele é amigo seu???? Me apresentaaa-a-a-a-a!
E, finalmente, rendem-se.
-Olha, tem um amigo meu que está solteiro.
-Como ele é??
-Nem bonito nem feio, mas simpático.(preste atenção: ele é simpático) Solteiro. Menos de 28 você pega?
-Ah... até Polenghinho.

Limite-se a sorrir, concordar e dizer "Tsc, mulheres..."

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Mom, I can't get it enough

Serpentinas até no pescoço, confetes entalados na garganta:
cof cof, é carnaval e eu só quero paz.

Um amontoado de pessoas na minha cabeça e monólogos noturnos no banheiro, na sala, no quarto, no corredor: só a mim essa voz fraca atingiria da forma como eu gostaria.

Liguei e ele não atendeu pra conversar comigo.
Dentre todas as desculpas possíveis, só me passou pela cabeça que não será mais útil brincar de esconder:
Dessa vez eu concluí que nada ganho com essa sobreposição de pessoas.
Porque é foda ver o amor morrer, e não querer vê-lo nascer outra vez.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Das adversidades da vida



Treino a vida inteira para correr mais que um ponteiro e no fim não sei o valor de alguns minutos.


Sucateio na memória toda lembrança que me ridiculariza e a sorvo em goles gigantescos.
Desejo a vida inteira ter visto o sol se pôr, e jamais sequer prestei atenção onde ele nascia.


Desejo muitas pessoas, e sei que isso não é errado, mas a forma como penso que as possuo me transforma em alguém que nunca quis ser.


Visto roupas pretas quando estou de luto, e quando não estou também.


Não é engraçada esta vida?


Todos dias acordo no mesmo lugar, e nunca sei onde estão meus sapatos.


O café é sempre amargo e eu já me habituei a apenas engoli-lo, sem dar rodeios e atenção ao seu áspero toque na língua.


De tanto que fui incompreendido, hoje sou alienado, conseguindo acreditar que isso é saudável.


Meus livros não saem do balcão: depois não lembro onde eram seus lugares e me sinto claustrofóbico.


Os ônibus são sempre lotados e mesmo assim consigo encontrar todo dia aqueles mesmos olhos cansados.


Seria a vida uma coincidência dos fatos?


Seríamos nós joguetes do destino?


Seria mais fácil se tudo que está longe do olho estivesse longe do coração?

Seria?


Seria


,




sereia, seria.




Não fossem esses pretéritos imperfeitos eu teria vivido muito mais.

terça-feira, janeiro 29, 2008

As psico-análises do narrador.

(Sentindo o drama na pele parte II)

-Superhomem, o mundo está em perigo!!
-Ah jura?
-Por que você está sentando, superhomem?? Andou bebendo de novo? Super, tira esse pijama, super IOOOOOOOOOOOOOOO CHEEEE AMOOOO SOLOOOO TEE!! NON TI PERDERÒ E NON TI LASCERÒÒÒ PER CERCAAAARE NUOOOVEE AVENTUUUREE!!
-Você não vai fazer nada??!
-Não.


Ele também cansou dessa naba.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Untitled.

Os dias têm passado tão rápido que não me surpreendo com a surpresa alheia:
Oh, este ano faço 30!
Oh, estou quase me formando!
Oh, parece que foi ontem.
Blábláblá.
Se pudéssemos simplesmente parar de viver anos em dias, ou forçadamente acreditar que a vida começa agora, todo instante.
Lenine estava certo: A vida é tão rara.
Às vezes ela explode na minha cara e saltam pingos para todos os lados: a cor de sentir o coração batendo não tem nome, não tem.


But my tea is getting cold, my life is getting good, my friends are getting adults, and my head's getting full: recycle.
Thank you, my pappier mache world.
And I'm so proud of you that I can't even say a word.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Chuva.

Sinto-me úmida.

frog's life.

A dor de verdade

(sentindo o drama na pele.. parte I )

-Ahhh, falando nisso.. sabe aquele menino da novela das 6?
-Hmm, não.
-Aquele que faz Sob nova direção, o pequeninho...
-Ah, sei sim! O engraçadinho!
-Isso.
-Que tem?
-Ele morreu.
-JURA?
-Sim, aneurisma.
-Nossa, esse negócio é de foder, mesmo.
-É.
-...
-...
-Como será que eles vão fazer a novela agora!?!??!?!

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Troca justa

(na surdina..)


-E aí, o que tem pra mim hoje?
-Rinosoro, véi.
-Quê??!
-Rinosoro.
-Hm... tenho um Cebion e duas pastilhas.
-Fechado.
-\o/.

Não tenha um bad day.

Hoje eu acordei me sentindo tão comum.
Acordei e o despertador não me irritou, mas caí da cama e assim começou um dia de tontura na saga da nossa bela jovenzinha.
Só ficou melhor quando aquela mulher toda de rosa com sapato roxo passou na rua e me lembrou de uma coisa (não pela roupa rosa, pelo sapato roxo ou pela bolsa vermelha - é algo que ela expirava) : Oh, céus, está tão in ser diferente que ser comum é absurdo.
E dentro do absurdo está tudo bem.

Nem vou manifestar minha indignação sobre ontem à noite. Afinal, qual o problema em ser visto com alguém que vai ao mercado à meia-noite pra comprar leite e passatempo??!!
Viu, depois vai todo mundo tomar café lá em casa.
Vou te contar.
Aqui, ó, tomem cerveja!

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Bom dia, porteiro!!

Eu me pergunto,
enquanto ando naquele ônibus lotado
enquanto ouço pela enésima vez que isso não vale a pena
enquanto penso que recital doloroso de música clássica irei ver hoje
enquanto minha vida caminha e saltita por ruas largas com vista para tudo:
Quem nunca teve medo de estar longe enquanto, sim, ainda podia estar perto?

3:00.
Revirar na cama.
3:10.
Ouvir passos.
3:12.
Relaxar. Leve o que quiser levar, hoje é domingo.
3:13.
Ah, é o Gio.
3:30.
Último pensamento do qual consigo lembrar:
Eu não vou pensar, eu não vou pensar em nada. Eu vou dormir...
6:34.
Sorrir e cantar a música que tenta me despertar há pelo menos 2 minutos.
Imaginar o biarticulado lotado e a trilha sonora de Amelie Poulain gritando nos meus ouvidos:
Oui, la vie en rose!
(sim, é possível acordar gripada, numa segunda-feira cinzenta, dormindo 3 horas e estar de bom humor \o/)

[Rá, ele sabia tudo que precisava saber de francês.
E aprendeu no Moulin Rouge]

segunda-feira, janeiro 07, 2008

História de Natal para aquecer o coração.

Ora, vamos lá, nós somos Facchin, se nosso Natal Realmente tivesse alguma fama, não seria a de aquecer corações.

Ok, eu menti no título.
Que feio.
Em 2008 eu quero: mentir menos.


Depois de hibernar quase um ano e meio numa relação dipolo-dipolo e esquecer boa parte das outras cores que não o vermelho, gastar todos os lenços, perder todos os quilos e chorar todas as pitangas, a temporada de reclusão chega ao fim!
Agora é a hora em que aquela baratinha que senta no canto do blog, que sempre me olha balançando a cabeça, pronunciando um "tsc, tsc" de censura enquanto coloca e tira os óculos, diz: Tsc, tsc.
Sábias as baratas, que mesmo com metade do intestino(verde) para fora saracoteiam por aí emporcalhando nossas vidas.
É, elas sim sabem o bom da vida: emporcalhar a vida alheia.