quarta-feira, janeiro 30, 2008

Das adversidades da vida



Treino a vida inteira para correr mais que um ponteiro e no fim não sei o valor de alguns minutos.


Sucateio na memória toda lembrança que me ridiculariza e a sorvo em goles gigantescos.
Desejo a vida inteira ter visto o sol se pôr, e jamais sequer prestei atenção onde ele nascia.


Desejo muitas pessoas, e sei que isso não é errado, mas a forma como penso que as possuo me transforma em alguém que nunca quis ser.


Visto roupas pretas quando estou de luto, e quando não estou também.


Não é engraçada esta vida?


Todos dias acordo no mesmo lugar, e nunca sei onde estão meus sapatos.


O café é sempre amargo e eu já me habituei a apenas engoli-lo, sem dar rodeios e atenção ao seu áspero toque na língua.


De tanto que fui incompreendido, hoje sou alienado, conseguindo acreditar que isso é saudável.


Meus livros não saem do balcão: depois não lembro onde eram seus lugares e me sinto claustrofóbico.


Os ônibus são sempre lotados e mesmo assim consigo encontrar todo dia aqueles mesmos olhos cansados.


Seria a vida uma coincidência dos fatos?


Seríamos nós joguetes do destino?


Seria mais fácil se tudo que está longe do olho estivesse longe do coração?

Seria?


Seria


,




sereia, seria.




Não fossem esses pretéritos imperfeitos eu teria vivido muito mais.

Um comentário:

Duda de Oliveira disse...

Teus comentários são obras a parte e eu fico até insegura de comentar, aqui, algo à altura.
Mas, sim, há MUITO pra se viver. Apesar dos olhos cansados e dos pretéritos completamente imperfeitos; é um tic-tac que não pára. E vale a pena.
E o que os olhos não vêem, o coração sente sim.