Treino a vida inteira para correr mais que um ponteiro e no fim não sei o valor de alguns minutos.
Sucateio na memória toda lembrança que me ridiculariza e a sorvo em goles gigantescos.
Desejo a vida inteira ter visto o sol se pôr, e jamais sequer prestei atenção onde ele nascia.
Desejo muitas pessoas, e sei que isso não é errado, mas a forma como penso que as possuo me transforma em alguém que nunca quis ser.
Visto roupas pretas quando estou de luto, e quando não estou também.
Não é engraçada esta vida?
Todos dias acordo no mesmo lugar, e nunca sei onde estão meus sapatos.
O café é sempre amargo e eu já me habituei a apenas engoli-lo, sem dar rodeios e atenção ao seu áspero toque na língua.
De tanto que fui incompreendido, hoje sou alienado, conseguindo acreditar que isso é saudável.
Meus livros não saem do balcão: depois não lembro onde eram seus lugares e me sinto claustrofóbico.
Os ônibus são sempre lotados e mesmo assim consigo encontrar todo dia aqueles mesmos olhos cansados.
Seria a vida uma coincidência dos fatos?
Seríamos nós joguetes do destino?
Seria mais fácil se tudo que está longe do olho estivesse longe do coração?
Seria?
Seria
,
Não fossem esses pretéritos imperfeitos eu teria vivido muito mais.
Um comentário:
Teus comentários são obras a parte e eu fico até insegura de comentar, aqui, algo à altura.
Mas, sim, há MUITO pra se viver. Apesar dos olhos cansados e dos pretéritos completamente imperfeitos; é um tic-tac que não pára. E vale a pena.
E o que os olhos não vêem, o coração sente sim.
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