segunda-feira, março 03, 2008

Hai un momento, dio?

Coloquei a mão no peito, extasiada pela tensão e tesão do momento, e disse de um jeito que não poderia ser outro:
-Filho de uma curca.
Ao que ele, na sua superioridade absoluta e inabalável pompa, baixou a cabeça, concordou e ressaltou:
-Muito curca.
Nossos olhares limitarem-se à vergonha de sermos quem éramos, no lugar onde estávamos, nas condições inquestionáveis: Ele não me responderia o que eu mais queria saber. E eu, ah, eu nunca me dobraria por tamanha situação inodora!
E eu era jovem. Sim, era jovem.. foi apenas ontem e anos se passaram desde que eu tombei com deus nas escadas porcas da praça. Ele e seu olhar fugidio. Maldito olhar! Sabia que eu iria exaurí-lo, sabia que minhas dúvidas não eram poucas. E eu disse
-Vem que te pago alguma coisa, bato uma foto tua no Alemão, te viro do avesso e descubro teus motivos.
E ele cedo disse que o mundo é dos espertos, virou as costas e continuou vendendo seus trecos artesanais para os alcoolizados e solitários: "Compra algo pra enfeitar o dedo da tua menininha".
E eu, joguete do destino, fiquei com uma flor na mão, um brinco novo na orelha e um pedaço faltando nesse espaço, há tempos tão vão e tão vã e tão cão: ...
Eu tapei essa ausência com durepox, deixando o cinza grudento evidenciar essa falta absurda de um desconhecido esperado. Eu queria é que ele tivesse aceitado meu convite, bebesse comigo e dissesse por que é sempre um diferente tão igual, eu queria que ele me desse UM motivo para acreditá-lo.

Mas não o fez.
Afivelou as sandálias,
enrolou a ponta dos cabelos com o indicador,
bocejou e despediu-se.
Virou-se pra mim e, numa tentativa frustrada, arrematou:
-Viva o lado Coca-Cola da vida.


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Eu estaria aqui de qualquer jeito, mas não é por isso. Eu quero uma felicidade que não precise ser colorida, mas que a seja, por pura sinestesia!
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