quarta-feira, outubro 22, 2008

O que escrever num cartão postal

É difícil manter o corpo e a mente no mesmo lugar.
O passado cria limo, e tornar àlgum lugar que não é mais nosso faz escorregar e segurar em quebradiços cipós.
Reluto a encontrar o lugar onde eu me encaixe: parece que sempre que vou embora consigo ver que não, aquilo não era pra mim.
Não entro mais nas roupas que cabia, não cantarolo Alegria e não me vejo onde se não longe. Vínculo é uma palavra difícil de definir quando não se sabe o que fazer com ele.

A contradição se traduz na própria sorte, mas o que dizer do Natal quando não se come peru, as crianças não correm e a música é russa? Parece uma espera pelo próximo ano, pelas canções esperançosas, pela maravilhosa pessoa que seremos. Andar para frente. Sorrir de lado a lado. Deixar para trás. Apontar direções com palavras, como se as vogais fossem flechas.

O esôfago pode se romper e contaminar os órgãos. Portanto, não contenha o vômito. Mesmo se for de emoções.

"A primavera está cinza mas acredito que dentro de dez dias os pessegueiros trarão a alegria adocicada que esperamos. Os rastros do outono resumem-se na melancolia dos sorrisos, de forma que será difícil um sorriso caloroso, então acostumo-me a perguntas tendenciosas com hálito de guacamole."

2 comentários:

Rubicreide disse...

A contradição é que sempre estaremos nesta posição passiva de espera para agir conforme a pessoa evoluída que tentamos ser.
Eu, pelo menos, sempre sinto a sensação fria e palpável que eu não sou daqui nem de lugar nenhum. Nem sinto nenhum apelo ou vínculo com tradição alguma que me faça parte de algo. Sei lá.

Anna Clara disse...

eu te amo.