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sexta-feira, janeiro 13, 2012
segunda-feira, dezembro 27, 2010
Votos incompletos de felicidade destemperada
Quando chega a noite desse dia cabuloso de dezembro, sente teus pés roçando a areia como se fizessem um carinho de amante - doce, quase vulgar - e amacia tua alma com os goles de espumante brindados à pretensa vida feliz que tu sabe que não vai ter.
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quarta-feira, junho 23, 2010
Crase e crise
Foi esse jantar à luz de velas improvisado, ou foi o vizinho declarando teatralmente que a convivência faz os “eu te amo” se tornarem cada vez mais esporádicos? Não sei, o fato é que cozinhei a nossa massa, bebi o nosso vinho ( e ele ficou pelo menos uns seis meses na geladeira), acendi as velas e comecei a balançar o corpo na janela enquanto escutava qualquer coisa como traz um alívio na voz...
Também lembrei-me de você, que depois daquele vômito no meu banheiro nunca mais apareceu na minha casa.
Do meu alterego inesgotável, resta um tanto de vinho. O tempo todo sinto que falta um copo para me embebedar de vida, e há sempre apenas um gole de vinho na garrafa. Me falta tu, me falta eu, me falta não desprezar o óbvio que surpreende, as viagens inusitadas, os dias de chuva na janela. Me falta ser quem não fui pela preguiça de provar algo duvidoso, me falta chutar eles todos da minha rotineira crise de identidade matinal e seguir em frente, sem a sertralina, pra ouvir uma música praieira e sentir que vale a pena a vida, em todos os seus sentidos. Mas a carreira é duvidosa e o futuro é uma ilustração por vezes colorida demais na minha cabeça.
Existe uma cabeça cheia de ser jovem, enquanto há um corpo farto de ser velho. Carcaça, ópio, dúvida, copulação sinestésica. Uma tatuíra tentando furar a areia, a humanidade é uma coisa engraçada, quem aprendeu a me ler? Acho que é a talvezcidade da vida que me corrói.
As sombras que as velas projetam na parede assustam e me fazem pensar em um Gregor Samsa dentro de mim, tentando encontrar a porta de sua verdadeira saída.
Meu corpo treme a cada gole de vinho, as lembranças tomam gosto e me sinto a única pessoa capaz de lembrar (com todas as ferramentas que só uma memória complexa pode oferecer) de tudo que nunca viveu.
Minha crise espontânea de criatividade, tão comum nos dias e nas noites que não me deixo viver, toma conta do meu hipocampo e é somente disso que me lembro: que não consigo criar. Li uma vez que não podemos acreditar nem em nós mesmos, o cérebro faz um caminho traiçoeiro e nos coloca em meio-fio quando acreditávamos que poderíamos voar. Besteira. A mente humana cria histórias para defender a espécie, preserva a sua identidade e evita o risco – até mesmo quem se arrisca está apenas seguindo um anúncio publicitário que nunca saiu da sua própria cabeça.
Parei de sonhar com príncipes encantados, noites românticas, velas e sonhos compartilhados. Planejo nunca ser descoberta nas minhas loucuras internas, as experiências orgásmicas que vivo enquanto pego-não-pego-no-sono. Quero viver com você, enquanto não me enjoar de sentir todo dia você dentro de mim, igual uma planta fora das proporções de seu vasinho medíocre. Isso nem tem conotação sexual, mas se quiser pode ter, quem não quer sentir o desejo latente de um ilustre desconhecido que dorme todo dia ao seu lado?
Quero acordar e sonhar minha vida, mesmo enquanto durmo, quero escutar tudo que puder, ver tudo que convier aos olhos, não deixar passar nada pra então olhar pra mim com confiança e saber que qualquer armadilha do meu cérebro será mera ficção. Nunca fui a pessoa a quem os discursos de auto-ajuda são direcionados. Não botei fé demais em pouca coisa, nem pouca fé em grandes planos, sequer em mim mesma. Um potencial desperdiçado. Um currículo mal feito. Crise de autoestima. Sonho desfeito, solidão latente. Tudo isso seria suficiente para me manter afastada do mundo por mais um bom tempo.
Mas não desta vez.
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quinta-feira, junho 17, 2010
Até não mais
Foi o tédio. Com certeza, foi o tédio que o fez levantar mais cedo e organizar uma pequena mala ao lado da cama. De resto, fez tudo igualzinho aos outros dias: me trouxe um café de mocca com três gotas de adoçante, preparou torradas com o pão de ontem, e o cheirinho veio gostoso ao meu encontro. Não reclamou da tendinite, do dia cinza, não elogiou meu cabelo nem fez careta pro meu bafo matinal – simplesmente sentou na poltrona vermelha ao lado da cama e ficou em silêncio. Perguntei o que houve e ele ficou quieto, como era de costume acontecer, olhando para mim.
-Todos meus assuntos com você acabaram.
De início não entendi, pois ele ficou parado e não explicou absolutamente mais nada. Depois, choraminguei: foi algo que eu fiz?
-Não sei se é assunto, mas não tenho mais curiosidade a seu respeito.
Mentira, sempre fui uma mulher misteriosa, intrigante, fascinante e desejável. O que tinha de errado com ele? Encostei-me na parede e tentei devolver o olhar de descaso que ele me lançava. Pensei em coisas inteligentes para falar, idéias boas para mostrar que eu sabia inovar, desdém para me valorizar. Mas era tudo mentira, desde a primeira mala dele que entrou na minha casa, tenho andado um pouco dependente, carente, desconfiada, displicente, derrotada. Sua presença máscula na minha casa feminina roubou minha auto-estima, autodomínio e autorrespeito – dediquei tudo, tudo a ele, cada jantar, cada vinho, cueca, suco de laranja, vitamina com granola, até a marca da margarina eu mudei pra fazê-lo sentir-se em casa na minha casa. Com um pouco de mudança em alguns lugares (coloquei uma banheira pra nós dois, ampliei o armário, fiz uma decoração mais clean, tentei organizar minhas coisas em pastas para que ele pudesse ter um homeoffice respeitável, tirei minhas comédias românticas da prateleira, coloquei umas fotos dos amigos dele nos porta-retratos, deixei meu cabelo crescer, juntei dinheiro para viajarmos para a cidade dele, assinei canais de esporte, tirei meus filmes pornôs do desktop, ah...) fui deixando de me enxergar aqui. E agora ele diz que nem sequer quer perguntar algo de mim. E todos esses dias de inverno que eu tenho passado, engolindo em seco uma dúvida crescente, um sorriso hesitante, um potencial inerte? Eu venho tentando acreditar em você e tudo o que me diz é que NÃO QUER MAIS SABER DE MIM? Te mando pra rua, te jogo um fogão em cima dessa cabeça grande demais, mas e depois? Quando eu olhar pra tudo isso e enxergar uma grande titica de galinha, será que vou atear fogo, chorar, cortar os pulsos, pedir pizza e ficar no sofá de perna-aberta-sem-calcinha só pra usufruir do prazer da vingança solitária? Ou vou te ligar e pedir pra você vir buscar suas coisas (mesmo que seja só desculpa, porque você nunca teve nada aqui) e tentar te seduzir com a ideia de que sou uma nova mulher, muito mais atraente, menos carente, super-confiante e deixar espalhados na bancada alguns kama-sutra, algumas indiretas pra você ver que, sim, eu mudei pra valer? Será que você vai morrer de tédio ao abrir a porta e ver que a casa está úmida, eu estou úmida, meu sofá está úmido, está tudo úmido sem você? Será que você vai perceber que eu nunca fiz a sua vida ser melhor, só lhe fiz companhia enquanto ela era ruim? E será que eu vou perceber que você foi uma daquelas terças-feiras cinzentas e chatas que duram uma semana e deixam a sensação de que estamos errando demais para uma vida só? Por que você não levantou e foi embora de uma vez? Ficou me olhando e esperando que eu dissesse que estava com outra, que sabia que você queria galinhar, que conhecia a sua laia. Você sabe que eu não faço escândalo, bem. Mas odeio essa sua cara de paz enquanto fica com a cabeça vazia me olhando como se tivesse um universo numa casca de noz para revelar, e eu que não soube aproveitar. Eu te aproveitei o máximo que eu pude, mas descobri que as minhas coisas são melhores para se viver. Eu disse NÃO para suas diversões falidas. Isso não te atinge? Isso não te fere? Me atingiria, me deixaria com o orgulho ferido saber que você só soube fingir o tempo todo, e é isso que você está me dizendo agora, entende? Você morre de tédio comigo e quem sente o tempo perdido sou eu.
Até não mais. Quando for embora, por favor me ligue para avisar quando for voltar.
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segunda-feira, março 22, 2010
Sem esdrúxulos escrúpulos.
Tenho vontade de fechar os olhos e largar tudo que nunca disse, como se me apresentasse de forma inusitada a um ilustre desconhecido.
-Oi, tenho sonhos estranhos, não sei o que fazer da vida, adoro velas, tomate com vinagre, deixo a roupa acumular por quase três semanas para então lavar. Quando me perguntam o que faço não sei se respondo sou estagiária, estudante,freelancer, modelete, vagabunda ou triste – sou sempre um potencial se desperdiçando, tenho certeza. Ben Harper tem a voz do meu coração, Carla Bruni é meu pensamento só que com tosse, não sei se acredito menos na política ou na bondade de estranhos. Quando vou pra cama fico triste pois simplesmente não consigo dormir, não é a claridade nem nada, É só que eu acho que falta alguma coisa, sempre todo sempre toda noite e não deve ser nem alguém pra abraçar, porque eu tenho um coelho gigante, só não sei o que é, é tão sem nome que quando imagino a forma geométrica que essa falta teria só consigo me lembrar de ter subido tão alto tão alto tão alto numa árvore que eu podia ver a casa dos meus pais de cima. Vista de cima, é o nome do meu blog, acho fantástico. Só recentemente vim a descobrir uma frase de Dumont, que as coisas da vida são muito mais belas quando vistas de cima. As roupas no varal nunca secam, pelo menos não no inverno, e o vizinho fuma maconha e minhas calcinhas ficam doces como se estivessem prontas para ser colhidas. Hoje olhei de novo para o meu apartamento como que me perguntando quando vou me sentir em casa. Uma vez dito adeus pra si, como sentir-se em casa?Costumava escrever cartas para um ex-namorado que eu nunca quis esquecer, mas me forcei, como que estuprando meu coração com outras faces. Contava as coisas mais bonitas e mais tristes e mais diferentes que eu vinha vivendo. Um dia parei porque percebi que ele não se importava, sob o eterno pretexto de não ter tempo. Sempre faz sentido aquela frase com algo sobre você se importar e os outros pouco se foderem. Não adianta poupar palavras para xingar e amaciar as pessoas, a gente tem tão poucas cartas na manga, quando vê o jogo já acabou e você ficou guardando um Ás pro final, que besta, mas no fim do jogo a regra inverte.
Já escondi muito o que sinto, hoje eu exponho a verdade, às vezes com um pouco de resistência, mas a ofereço como prato principal, e alguns acompanhamentos sinceros. A verdade que, afinal, nem é absoluta nem nada, é só a verdade de uma parte em um único momento no espaço-tempo.
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Marcadores: desabafo, nudez, sinceridade
domingo, dezembro 13, 2009
quarta-feira, setembro 16, 2009
Sobrevivi para dizer-lhe que
Não sinto pena do garoto que mora na rua, nem do velho solitário no fim da vida, nem do soropositivo que não vai sair do hospital, nunca mais. É compaixão barata, tão sutil que tenho que me abster de comentar pra fingir (sim, novamente fingir, é incrível como isso se repete a vida toda) uma pena comedida cheia de boas intenções. Quando a música toca e todos param pra dizer que coisa linda, de onde vem?, eu levanto os olhos e procuro o ponto de fuga desse plano sem perspectivas, produzo um escape e a música me derrete e sou tinta vermelha escarlate respingando pelas paredes, lacrimejando algo que não posso explicar, uma dor maravilhosa pra sair cantando em línguas nunca faladas, pra abrir o coração feito puta doente e pedir aconchego nas esquinas que já não cabem em mim, subir aos céus e sentar-me à direita do Criador do céu e da terra, que em seus filhos jogou confetes, parafina sentimental e o carma de nunca saber aonde chegar. Crime hediondo, todos que habitam esse lugar cometem crimes escondidos, pequenos auto-flagelos-psicológicos.
Busco paz de espírito mas não acredito em espírito nem que a paz seja absoluta ou branca ou demasiado profunda. Busco calmaria mas jamais conseguiria me sentir satisfeita se silenciasse esse gritedo que sinto por dentro quando passo o dia em silêncio elaborando mais alguma teoria ridícula, sim, mas ao mesmo tempo fantástica e singela: pura de mim mesma, alegre e sortida, confeitos docinhos para mastigar no ônibus indo pra casa. Quando chega em casa, repousa a cabeça no travesseiro e agradece a si mesmo que não, não foi hoje o dia em que pulou da janela ou se atirou na frente de um carro ou teve crise de pânico no meio da Ipiranga.
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terça-feira, agosto 11, 2009
Se encontrar e se perder é natural.
Dilemas e trilemas da frágil e sensível raça humana.
Quando me cumprimenta de peito aberto e exala o cheiro das flores e das madeiras que nunca cheirei, ah, domina meu faro com a sutileza de uma leoa faminta, encolhe-me diante de si e sou uma fagulha implorando para não ser pisada. Tem um jeito típico de adentrar o quarto, fingindo não ver minha bagunça interior: sábio. Me olha nos olhos quando os fecho para mostrar que não é assim violento assim doloroso assim feio entregar um pedaço que não se sabia que existia. Provoca curiosidades latentes, será que entende que não é corpo é alma nuda cruda felpuda? Será que não minto entre pernas e abraços pra sentir que existe algo para que voltar? Injusto enganar um desejo só pra mantê-lo por mais tempo?
Saber que não me sabe sem saber é saber que se soubesse saberia que não sabe.
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quinta-feira, julho 30, 2009
domingo, julho 05, 2009
segunda-feira, junho 22, 2009
O que você quer?
Pular do telhado. Gritar o soluço engasgado. Tropeçar, correr, levantar, de medo morrer, não sucumbir. Ler coisas estúpidas, agradecer a sanidade que resta pelas asneiras não cometidas, chorar. Tossir escafandros, delícias vermelhas, doce deleite duvidoso. Amaciar a carne. Humana, sim. Seguir a linha pontilhada, imaginar que tudo é uma continuação de recomeços. Admirar, porque sou boa nisso. Buscar com todas as forças não dar sorrisos debochados. Mastigar 60 vezes. Dormir 4 horas por noite. Chegar em casa e tirar os sapatos, adiantar o trabalho atrasado, a vida adiada, estender a alma molhada. Imaginar um sofá na sala, deitar nele. Não estar sozinha, solitude, dividir mais coisas que um pacote de bolacha e uma porção de dvd´s. Mergulhar. Porque traz um alívio, todo dia a desgraça vira história. É lindo, é lindo, deita na cama e cheira o peito de quem dorme contigo. Não tem nada melhor, nada melhor, do que dividir a solitude adociada com alguém salgado.
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sexta-feira, abril 24, 2009
Para os refugiados de si.
O que será que te faz largar a bicicleta e sair correndo gritando provando pra si que não há motivo evidente pra viver sem retorno? O que será que te faz comprar tantas coisas das quais não precisa e te faz procurar com a garra mais forte do mundo uma garrafa de álcool que não te pergunte o que espera da vida? O que será que se esconde atrás dos muros e que te desperta a curiosidade, que te tira do sono mesmo que não tenha dormido à noite, o que será que seria da tua vida se não saísse do armário ou do bolso ou de dentro dos livros? O que será que te mete tanto medo que te faz sair de casa à noite procurando o perigo escondido , o que será que te mata com calma e dilui tuas cores, que te protegedo escuro e te molha por dentro? O que será que me foge o controle que me explica que de amor só se fala em voz baixa e a meia-luz, o que será que não tem nome mas eu grito chamando pra vir me buscar?
Eu ou tu, o personagem sempre se perde no final - que não existe-, quando deveria se encontrar. Não sentisse o aroma adocicado do melão apodrecendo na mesa, me puxando pra saborear um presente ultrapassado e não-inédito, poderia dizer que vivo a vida vizinha, bandida, clandestina, de não saber qual será a minha nova versão.
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sábado, abril 18, 2009
Allegro moderato
Um surto de consciência.
Oxigênio. Sugar, com os olhos também, a vivacidade que se esconde na poeira, além das paredes que se estreitam. Precisa quebrá-las pra enxergar.
Agora entendi finalmente o uso
das paredes de vidro.
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quinta-feira, março 26, 2009
Sobre como seus olhos ficam lindos ao sol
As covinhas no rosto me trazem de volta à realidade.
Não há lugar seguro nem passado confortável: desfazer-me da idéia é então mais difícil que tocar o resto adiante.
Quando me disseram pra não bancar deus, achei engraçado. Hoje, acho triste.
às vezes, para andar pra frente, é preciso dar um passo atrás.
Então, se é pra voltar, eu te pergunto: para que mentir?
Eu me enganei e agora só quero cantar uma música boba com fundo verídico.
mas quando eu saio eu sei que você chora,
abre os braços, vem e me
namora.
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segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Náufrago
Sempre tive um medo desgraçado de casas sem campainha.
A possibilidade de esperar por horas até que da janela ela me visse era, no mínimo, nauseante. Não tinha pressa, mas a ansiedade me consumia. Consumia tanto que em dez minutos tive a audácia de traçar minha história com ela, passando pelos detalhes mais remotos, como uma noite em que ela caía da escada da nossa casa e eu a socorria com o avental da cozinha e deixava o arroz grudar na panela. Depois pedíamos comida chinesa, porque nossa despensa era sempre pobre, mas ela nem se importou, e então ela apareceu na janela e sorriu angustiada. Ela me matava quando sorria dessa forma. Abriu a porta de casa, percorreu o jardim, pegou o gato cinza e gordo pelo caminho (eu sabia que era só pra não vir me olhando nos olhos), encostou no portão eletrônico e lá ficou. Perguntou o que dessa vez me movia pra zona Sul, qual desculpa eu daria dessa vez. Disse que tinha uma entrevista de emprego, semana passada tinha sido só o teste psicológico. Como me saíra? Bem, bem, eu sempre digo que me saio bem, quem sabe assim ela percebe que eu sou um cara legal e para de me tratar como se eu fosse um mendigo pedindo bolachinha na saída do mercado. Eu não estou mendigando companhia, Isabel, eu só gosto da essência de nós dois. De você mesmo e o que você acredita que nós temos, ela disse.
-É, Isabel, disso que você ajudou a construir, porque mês passado mesmo você me disse que ainda faltavam novecentos e noventa e nove anos pra alguém me separar de você.
-Você não sabe reconsiderar, acha que tudo que a gente diz é eterno. Você parece bobo, sonhando alto e querendo ficar com os pés no chão. Meu pai me disse que você é daquele tipo que morre de medo de altura e compra um apartamento na cobertura, só pra mostrar que superou e que aquilo passou. Eu também acho. Você tem mais medos que desejos e joga seu coração no chão pra eu ter o deleite de pisar. E sabe o que isso significa?
E por que diabos eu prestava atenção? Porque eu acho lindo, lindo alguém sofrer por amor. Não, Isabel, o que significa?
-Significa que eu vou pisar, sim, até você não ter mais sangue pra respingar em mim. Aí estaremos livres um do outro.
Que retardada. Não entende que a liberdade mais canta que fala e que o amor mais chora que ladra.
Isabel é mais homem que eu. Quem dera fosse ao menos travesti.
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sexta-feira, janeiro 30, 2009
História para um sentimento oxidado.
A porta está aberta e de qualquer jeito dá pra entrar por ela, numa teoria muito simples elaborada em sete segundos e meio: Estica a mão, pega a maçaneta, gira o pulso aproximadamente 90º para fora e puxa-a como se quisesse trazer a porta para si. Pronto, primeira etapa. Depois, avista o interior, se borra de medo, inclina o corpo a 70º com a linha do horizonte e, com um pouco de coragem e vontade física, adentra o recinto com ar confiante, porém distante, para nunca transmitir a sensação de que se dá muita importância a um ato tão corriqueiro quanto, pasme, abrir uma porta e entrar.
E, então, estamos em casa outra vez.
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sábado, janeiro 24, 2009
Memórias do Sub Consciente afetivo não descoberto por Freud parte I
Porque a gente bebe pra esquecer que a segunda-feira sempre vai chegar, e a vida inteira a gente engana o tempo pra fingir que ainda tem vinte, que os sonhos vão se realizar e que alguém, apesar de tudo, ainda acredita no que a gente diz.
Sorri, sim, com os lábios marotos e sorri também com os olhos esmeralda, e aproveita os minutos em que o álcool fala mais alto que a consciência. E dança, dança a música que parece ter sido feita pra hoje, e esquece que é o DJ quem está rindo da sua sexy desenvoltura.
NADA, além do amor, justifica uma existência. É por isso que a queda é sempre dolorosa: porque nos tira a razão. E, depois disso, qualquer voz é sedosa quando a alma é carente, o sentimento, gritante; e o choro, iminente.
Nem a vodka nem a perda, com todos seus esforços históricos, são capazes de tirar de um homem o que ele mais teme: a sua quintessência.
Quando se busca prazer se busca também dor. Acredito que seja por isso que carreguemos, durante a vida toda, nossas próprias granadas.
Repito erros diferentes só para parecer que não sou burra. Assim como você.
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Dos ônibus e da vida adiada (vadiada)
Você me perde e eu perco você.
da janela do ônibus a vida é engraçada, tão bela assistida que só despida fica normal.
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segunda-feira, dezembro 15, 2008
Verde, vermelho e Vinho.
Montar o pinheiro é a coisa de que mais me lembro da minha infância. O cheiro de coisa guardada, os enfeites novos e os quebrados, todos dividindo o mesmo verde pinheiro gigante que não tocava o teto mas alcançava o céu, nas minhas fanfarronices de menina que quase aprendeu a ser menino.
A mãe continua montando coisas e espalhando enfeites, mesmo que as crianças não peçam, mesmo que as crianças tenham inchado, mesmo que o gato não tenha mais peixe pra comer na véspera do Natal porque descobriu que a árvore podia facilitar seu acesso ao que era proibido.
Todos nós aprendemos a facilitar o que nos é proibido.
Sem crueldade desta vez. Porque no natal é espírito natalino, e no resto do ano é espírito de porco.
A unha vermelha e o vinho são pra esquecer quem esquece de avisar que nos esqueceu.
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segunda-feira, dezembro 08, 2008
Sobre decidir ou sentir
Existe algo muito escroto no fim das minhas palavras que denota a saudade que sinto de tudo que não vivi.
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segunda-feira, dezembro 01, 2008
Aquilo que nos corrói
Ouvi meu nome e me virei. De dentro do carro, que atrapalhava sem culpa o fluxo de automóveis na principal avenida, me acenou a mão que anos antes me procurava como se minha obrigação fosse oferecer. Três passos e meu rosto veio ao chão, junto com a confiança e palavras trancadas num lugar entre os pulmões e a garganta. Então, não precisava mais andar, procurar ou desconversar: descobri que se pode, sim, acabar com o dia de alguém com simplesmente um olhar, e pude finalmente equiparar meu sentimento ao daquelas garotas que mudam todas suas vidas porque não sabem mais encontrar aquilo que lhes foi tirado.
Em cinco minutos disse mentalmente anos de silêncio e frustração. Tu sabias que eu não iria me permitir, não sabias? Tu sabias que eu sempre te julgaria muito aquém da tua capacidade de me atrofiar emocionalmente.
Eu ainda tendo a te perdoar e te considerar inocente. Enquanto isso, repudio qualquer coisa que se pareça com você e se mostre amigável. Vendo teu rosto eu entendo porque raramente consigo me entender.
Valeu, aí. Só queria que você sentisse o que eu sinto pelo menos uma vez.
*semelhanças com a realidade são coincidências. O que for igual, é causal.
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quarta-feira, outubro 22, 2008
O que escrever num cartão postal
É difícil manter o corpo e a mente no mesmo lugar.
O passado cria limo, e tornar àlgum lugar que não é mais nosso faz escorregar e segurar em quebradiços cipós.
Reluto a encontrar o lugar onde eu me encaixe: parece que sempre que vou embora consigo ver que não, aquilo não era pra mim.
Não entro mais nas roupas que cabia, não cantarolo Alegria e não me vejo onde se não longe. Vínculo é uma palavra difícil de definir quando não se sabe o que fazer com ele.
A contradição se traduz na própria sorte, mas o que dizer do Natal quando não se come peru, as crianças não correm e a música é russa? Parece uma espera pelo próximo ano, pelas canções esperançosas, pela maravilhosa pessoa que seremos. Andar para frente. Sorrir de lado a lado. Deixar para trás. Apontar direções com palavras, como se as vogais fossem flechas.
O esôfago pode se romper e contaminar os órgãos. Portanto, não contenha o vômito. Mesmo se for de emoções.
"A primavera está cinza mas acredito que dentro de dez dias os pessegueiros trarão a alegria adocicada que esperamos. Os rastros do outono resumem-se na melancolia dos sorrisos, de forma que será difícil um sorriso caloroso, então acostumo-me a perguntas tendenciosas com hálito de guacamole."
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segunda-feira, outubro 13, 2008
O conforto como uma sub categoria da felicidade
(me desagrada ler textos com pontuaçao incorreta ou deficiente, entao sem problemas que eu entendo o drama da leitura do meu blog)
A felicidade, no senso comum, pode ser generalizada como a satisfaçao pòs-coito.
Para mim, felicidade variàvel parece permanentemente quase-atingida, com aquela sensaçao de que hà algo mais a fazer.
A rotina cremosa faz sulcros delicados na cartilaginosa memòria: està tudo aqui? Esperando por algo mais, os olhos fazem manobras para espiar o que seriam as outras possibilidades, mantendo a falsa postura de contentes e bem-alimentados. Os desvios que fazemos, exibindo-nos como se efetuàssemos manobras radicais, sào apenas os mesmos da ùltima vez: é arriscado fugir além do campo delimitado para os fugitivos.
Um cara toca saxofone na praça e a divina comèdia humana tranforma a libertaçao em vadiagem, o amor em putaria e a confiança em burrice. Confiar em quem além do porteiro e do cobrador? A traiçao é iminente? A descentralizaçao das nossas idéias confere a terceiros decisòes e palpites que qualquer terapeuta desaconselharia. Dou à luz uma estrela pulsante e minhas entranhas procrastinam a acostumar-se sòs.
A mùsica sempre diz algo que eu gostaria de ter criado, mas eu falho e maldigo o momento em que desafiei minha competencia e conferi a culpa de meus maus momentos de erupçao mental a nada além de mim mesma.
é o conforto de escrever com os dedos, e nao com a cabeça, que enche d'àgua os pulmoes.
é preciso querer bem mais pra continuar acordando e segredar à vida que um dia nasceu là fora, que é a cotovia que canta e nao o rouxinol.
Tenho que enxergar bem mais para encontrar o caminho ao oftalmologista.
Precisamos sentir que podemos mas nao queremos chorar.
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quarta-feira, outubro 01, 2008
Desejo solùvel
O tempo passa.
(apalpa, apalpa, apalpa. Suspiro)
é, parece que nao tem nada de diferente.
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quarta-feira, setembro 17, 2008
Tudo que eu queria te dizer.
Faz anos que nossas vozes nao se tocam, mas ainda assim salivo com o gosto de nossas discussões na memòria.
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