quarta-feira, setembro 16, 2009

Sobrevivi para dizer-lhe que

Não sinto pena do garoto que mora na rua, nem do velho solitário no fim da vida, nem do soropositivo que não vai sair do hospital, nunca mais. É compaixão barata, tão sutil que tenho que me abster de comentar pra fingir (sim, novamente fingir, é incrível como isso se repete a vida toda) uma pena comedida cheia de boas intenções. Quando a música toca e todos param pra dizer que coisa linda, de onde vem?, eu levanto os olhos e procuro o ponto de fuga desse plano sem perspectivas, produzo um escape e a música me derrete e sou tinta vermelha escarlate respingando pelas paredes, lacrimejando algo que não posso explicar, uma dor maravilhosa pra sair cantando em línguas nunca faladas, pra abrir o coração feito puta doente e pedir aconchego nas esquinas que já não cabem em mim, subir aos céus e sentar-me à direita do Criador do céu e da terra, que em seus filhos jogou confetes, parafina sentimental e o carma de nunca saber aonde chegar. Crime hediondo, todos que habitam esse lugar cometem crimes escondidos, pequenos auto-flagelos-psicológicos.

Busco paz de espírito mas não acredito em espírito nem que a paz seja absoluta ou branca ou demasiado profunda. Busco calmaria mas jamais conseguiria me sentir satisfeita se silenciasse esse gritedo que sinto por dentro quando passo o dia em silêncio elaborando mais alguma teoria ridícula, sim, mas ao mesmo tempo fantástica e singela: pura de mim mesma, alegre e sortida, confeitos docinhos para mastigar no ônibus indo pra casa. Quando chega em casa, repousa a cabeça no travesseiro e agradece a si mesmo que não, não foi hoje o dia em que pulou da janela ou se atirou na frente de um carro ou teve crise de pânico no meio da Ipiranga.

Um comentário:

Rubicreide disse...

" abrir o coração feito puta doente"


Porque eu nunca te li antes?????!!!?!

Maravilhoso