segunda-feira, dezembro 27, 2010

Votos incompletos de felicidade destemperada

Quando chega a noite desse dia cabuloso de dezembro, sente teus pés roçando a areia como se fizessem um carinho de amante - doce, quase vulgar - e amacia tua alma com os goles de espumante brindados à pretensa vida feliz que tu sabe que não vai ter.


Angustia os minutos finais desse ano que passou feito febre - entorpecido, doente, alucinado - e se despede com pesar das coisas que, mais uma vez, não conseguiu fazer.

Comemora as breves conquistas, o novo emprego, o velho amor, o sonho revolvido como o solo preparado para o plantio. Junta essa parafernália toda na tua cabeça de uma vez só e sente que um ano foi pouco para tudo que tu fez, aprendeu, sofreu, cresceu, doeu, trepou e se ferrou. É evidente que tu foi rei de ti mesmo, com direito a louros, coroa e trono. Mas depois dessa autocomiseração maravilhosa, cai na real e sente aquela dor de não ter sido quem gostaria de ser. E lembre que, mesmo tentando, ano que vem tu também não será.

Te promete viver mais, trabalhar menos, ser doce e carinhoso, não se irritar com filas, pão velho, ligações azucrinantes e cobranças constantes. Promete ao mundo reciclar, se doar, merecer e deixar o rancor perecer. Promete ao teu amor que vai durar, que tristeza não vai chegar, que a vida será só sonhar.
(esquece que aos sábados o trabalho irá te chamar, que de stress teu coração vai empedrar e que com ódio é que tu vai responder quando tua mãe te ligar pra saber do médico que tu não marcou)

Mas crê, tu há de ser feliz neste ano que já começou há tanto tempo nessa tua cabeça que procrastina e adianta, mas nunca vive o presente.

Angustiar e celebrar faz tão parte dessa retrospectiva Globo da tua vida que é sempre bonito assistir esse mar que se divide na tua cabeça nos 5 minutos finais de um ano que não vai terminar.
Nesses e só nesses minutos eu queria estar tão dentro de ti de um jeito que nem tu mesmo nunca vai estar. 

 os minutos se diluem, e de novo a vontade de fazer tudo diferente se derrete na areia suja sob teus pés. agora ela te toca como menina que oferece como único presente um sorriso triste, mas verdadeiro.

3 comentários:

Duda de Oliveira disse...

Os teus textos demoram a vir mas, quando vêm, gente... Que é isso?

pedro p. disse...

muito bom!
eu gosto da alegria do final de ano; e da ressaca que não vai embora.
juntar os bons e tentar fazer com que os sorrisos de hoje tentem ser iguais aos outros do ano que passou. E fazer as histórias renderem até a próxima.

Nilson Vellazquez disse...

"Mas depois dessa autocomiseração maravilhosa, cai na real e sente aquela dor de não ter sido quem gostaria de ser. E lembre que, mesmo tentando, ano que vem tu também não será. "

Verdade verdadeira!