segunda-feira, março 10, 2008

Ímpeto lascivo.

Como não se conta um conto.


Amizade escarnada no desejo?
Não saberia. Pagou a passagem, estralou os dedos (menos o dedão esquerdo, era sempre tão complicado estralá-lo!) e pensou:
"Onde parei?". A falta de respostas foi a única coisa que lhe surgiu à mente.
Por que era assim difícil ser emocionalmente estável, financeiramente satisfeito e intelectualmente respeitável?
A incapacidade o oprimia; a fatalidade decorrente o excitava.
Coisas da vida.
O ônibus chegou, desembocou desconhecidos feios, sujos e mal humorados, fechou as portas e ele.
continuou.
ali.
(é preciso muita calma e paciência para suportar uma existência descoberta antes da hora).
Surpreendia-se com a força que aquele corpo miúdo, estreito, tomava seus pensamentos. Não era preciso metafísica dos tubos para entender que o que sentia era quase, quase divino.

Sempre, sempre há tempo para dizer que gosta, para dizer que se importa, e o tempo se expremia entre as mãos, pernas e sexos naquele ônibus apertado.

Às vezes vinte anos passam mais rápido que uma madrugada no hospital.

A mãe dissera que o tempo lhe ensinaria a ser homem; que carregaria na pupila do olho uma menina, e que ela o ensinaria a não ser assim cruel.
Mas não ensinou e o que lhe favorecia era a sem-vergonhice de nada ter; assim, nada tendo a perder.

3 comentários:

Neto Macedo disse...

Welcome too!




(Comentários mais produtivos também virão ^^)

Anna Clara disse...

O tempo talvez não me ensine a única coisa que quero aprender:
Como ser eu.

Anônimo disse...

Puxa!
È a primeira vez que passo por aqui e eu amei, vi uma pessoinha tão refletida em tuas palavras..
Escrita rebuscada, muito boa..
Volto mais e sempre!
bjos
Deh
solemescorpiao.wordpress.com